quinta-feira, 8 de novembro de 2007

RECALL DE HOMEM



Foi vítima de propaganda enganosa? Comprou gato por lebre? Não deixe barato. Se o seu exemplar masculino não tem conserto, entrena nossa campanha e exija a troca do macho problemático por um substituto em perfeito estado.


Está no Código de Defesa do Consumidor brasileiro: todos os fornecedores são obrigados a convocar um recall se os seus produtos forem considerados defeituosos. Pois bem. Se automóveis e computadores são alvos de recall, nada mais justo que os homens, criaturas com um alto índice de defeitos, também sejam. Afinal, os rapazes atendem (e como!) aos requisitos básicos citados na lei – atentam contra a integridade e a segurança do consumidor e causam danos de ordem material e/ou moral. Por isso, reivindicamos os nossos direitos e lançamos uma campanha nacional de recall de homem. Para aderir ao movimento, confira nas páginas seguintes a descrição de alguns dos defeitos de fabricação mais comuns no mercado varonil. Ao se deparar com um sujeito enguiçado, tente primeiro o ajuste recomendado para avarias leves. Mas se a situação for muito crítica não titubeie: exija a troca por um similar perfeito ou o seu sossego de volta!


SBP (SÍNDROME DE BRAD PITT)

Disfunção que vem atingindo cada vez mais homens neste século. O sintoma principal é a distorção aguda (sempre para o bem) de imagens (sempre as próprias) refletidas no espelho. A atriz Angelita Feijó já teve o desprazer de cruzar com um tipo desses. “O cara achava que eu tinha que agradecer 24 horas por dia por estar ao lado dele”, conta ela. Não raro, os rapazes que sofrem de SBP vêem uma barriga tanquinho no lugar de uma pancinha e uma cabeleira à la Beckham em vez de uns parcos fios desordenados.

AJUSTE Alugue e assista com ele a comédia Zoolander, em que Ben Stiller faz um modelo tapado de dar dó, com SBP em altíssimo grau. E da próxima vez que pegar o fofo fazendo biquinho na frente do espelho, solte um “tá lindão, Zoolander!”. Se ele tiver bom humor, vai achar graça e passar a controlar os impulsos narcisistas – pelo menos na sua frente.

CHAME O PROCON Tudo bem que o Brad Pitt-wannabe seja obcecado pela imagem dele, mas ficar dando pitaco no seu visual já é demais. Sugestões como “você precisa emagrecer” e “que tal se cuidar mais para mim, amor?” configuram danos irreparáveis, passíveis de bilhete azul. Faça como a modelo e apresentadora Mariana Weickert e não dê trela para esses tipinhos: “Fuja de homens do tipo âncora, que só colocam a gente para baixo. No fundo, eles são megainseguros”.


COMPLEXO DE ÉDIPO

“Todo filho tem ciúme do pai e deseja ser parceiro da mãe, mas isso é naturalmente superado com o tempo. Quando não é, temos o famoso complexo”, explica a psicoterapeuta Ju rema Marques. Em bom português: o filhinho da mamãe é unha e cutícula com a progenitora. A promoter Fernanda Barbosa sofreu com uma sogra do estilo Jocasta. “Tive um namorado que queria sempre jantar e passar os fins de semana com a mãe. Não agüentei muito tempo”, conta. “O meu cumprimentava a mãe com um selinho. Só deixou de fazer isso depois do ataque de cólera que tive ao presenciar a bitoca. Onde já se viu?”, questiona a publicitária Camila Avesani.

AJUSTE Nem perca o seu latim tentando mostrar ao complexado a bizarrice da situação. “Ele não enxerga e ainda vai achar que é puro ciúme de nora”, ensina Jurema Marques. Respire fundo, seja gentil com a sogrinha e tenha sempre uma ótima desculpa para evitar encontros familiares ou, se isso não for possível, reduzir a sua permanência ao mínimo necessário.

CHAME O PROCON Comparações entre você e a sogra são tão revoltantes quanto referências a ex-namoradas. Se o seu namorado costuma começar frases com “ah, mas a minha mãe...” ou “porque o feijão da minha mãe...” ou ainda “mas na casa da minha mãe...”, você tem duas opções: manda o moço para o divã ou o devolve para a fábrica, ou melhor, para a mãe.

VÍCIO EM MESAS-REDONDAS

Está cientificamente provado que 99% dos exemplares masculinos vêm com esse problema de fábrica. Some-se a isso o agravante de que os machos brasileiros vivem no país do futebol e você terá idéia do tamanho do estrago. Um fato curioso é que eles nunca se contentam em assistir “clássicos” do gabarito de São Bento de Sorocaba x Asa de Arapiraca. O pacote só fica completo com uma sessão intensiva de mesas-redondas dominicais, programas nos quais se discute cada pormenor de cada lance de cada jogo da semana do planeta Terra. “Os debates esportivos estão para os homens assim como as novelas para as mulheres. Cada rodada é um capítulo”, esclarece César Cardoso, apresentador do Gazeta Esportiva. A modelo e empresária Paula Mott que o diga. “O meu namorado, corintiano roxo, assiste os jogos do seu time para torcer e os dos outros para rogar praga. É fanático por mesas-redondas e joga com os amigos quatro vezes por semana. Tento ser compreensiva, mas é uma overdose futebolística”, desabafa a moça.

AJUSTE Como ainda não inventaram uma clínica de reabilitação para os viciados em mesas-redondas, nos resta apenas tentar ver alguma graça nisso tudo. Já comentários acerca dos dotes físicos dos jogadores não são recomendáveis e podem irritar o companheiro. “Tentem aproveitar os intervalos!”, sugere César, o otimista.

CHAME O PROCON Se você vir pela TV o seu parceiro derrubando o alambrado no Estádio do Pacaembu, não espere nem um segundo. É expulsão na certa.


FALTA DE NOÇÃO FASHION

Se a cada dez marmanjos dois forem minimamente bem-vestidos, estamos no lucro. Mas, se a gente descontar nossos estilosos amigos gays, pelos nossos cálculos, restariam... Melhor esquecer a conta e seguir adiante com o tópico. “Realmente, em comparação com a mulher, o homem só começou a prestar atenção na moda há pouco tempo, o que deixa essa noção um tanto distorcida”, opina o estilista da grife IoIo, Alexandre Iódice. E bota distorcida nisso. A designer gráfica Flávia Gorgatti sabe bem. “Já vi o meu namorado vestido com calça jeans de barra desfiada, regata tie-dye e sapatênis de couro branco. Tudo num look só”, conta ela.

AJUSTE Atente para os conselhos da apresentadora Adriane Galisteu, que, entre outros talentos, é reconhecida por ter dado um up no estilo do namorado, Roger, jogador do Corinthians. “Tenho os meus truques. Dou os presentes que quero vê-lo usando e, com jeito, peço que ele experimente peças bacanas e combinações diferentes”, revela. Para Alexandre Iódice, a dica é apostar em bons e duráveis básicos com um toque fashion, como blazer de veludo, calça jeans escura mais afunilada na barra e um belo tricô de fios grossos. O processo de recuperação requer persistência. Se desanimar, lembre-se de que até o namorado da Flávia, aquele do sapatênis de couro branco, sarou. “Depois de dois anos, consegui deixá-lo bem melhor”, gaba-se ela.

CHAME O PROCON O conserto fica muito difícil se a falta de noção fashion se juntar à Síndrome de Brad Pitt. Aí, amiga, sinceramente vale mais a pena trocar por um novo.


CEGUEIRA SELETIVA

Probleminha mais comum do que carburador sujo. O seu namorado sofre desse mal se: 1. Nunca percebe que você mudou o corte de cabelo e é incapaz de distinguir o seu estilo, de garota moderna e leitora de ELLE, e o de qualquer fulana estilo popozuda. 2. Ele dá um presente que “é a sua cara, amor!” – e o presente parece ter sido feito sob medida para a fulana popozuda citada acima. 3. A cegueira é temporariamente curada quando a tal popozuda passa na frente dele. A ciência ainda não descobriu as causas, mas trabalha com três hipóteses principais: desinformação, distração ou mau gosto mesmo. Outra possível explicação é a da stylist Lara Gerin: “Os homens não ligam para as roupas das mulheres porque se importam com o que está embaixo delas”. Não, ela não está se referindo à nossa beleza interior.

AJUSTE O cabeleireiro Eron Araújo, do Studio W Iguatemi, diz que o negócio é não esperar elogios. “Muitas clientes mudam o visual para agradar a namorados e maridos, e isso quase nunca é reconhecido. Por isso, sempre digo: faça para você, não para ele”, aconselha. Mas se você faz questão dos confetes, siga a técnica da apresentadora Patrícia Maldonado: “Antes de voltar para casa, ligo e falo: ‘Espero que você repare bem em mim quando eu chegar’. Sei que os comentários não são espontâneos, mas a harmonia do casal fica garantida”.

CHAME O PROCON Se ele mal repara na sua pessoa e fica animado demais com o figurino da onipresente popozuda, então, quem tem que abrir o olho é você.


COMPLEXO DE DESCULPA

É basicamente o contrário do complexo de culpa, um clássico do way of life masculino. Funciona assim: nada, absolutamente nadica de nada, é culpa do homem. Por raciocínio lógico, se a culpa nunca é deles, só pode ser... Captou? Nossa, claro! “Os homens têm um problema sério em admitir a culpa. Com o meu, é um pouco pior. Por ser ator, ele argumenta muito bem e acabo me convencendo de que a errada sou eu”, conta a nutricionista Andréa Santa Rosa – a quem interessar possa: o marido em questão é Márcio Garcia.

AJUSTE Para que se estressar? Antes de o meninão ficar bicudo, vá logo assumindo a culpa. Ele esqueceu a chave da casa de praia? Culpa sua, que não lembrou o moço. Ele deu uma topada com o dedão do pé? Ah, você que distraiu o pobrezinho. Ele foi se servir e deixou o prato cair no chão? Ué, quem mandou você não fazer o pratinho dele? Depois de um tempo, o mea-culpa vai virar piada.

CHAME O PROCON Bom, se ele não entender a brincadeira e realmente acreditar que está sempre certo, é caso para devolução. Se ficar com dó, repita o mantra: “Se fosse o Márcio Garcia, eu até consideraria a possibilidade de carregar a culpa. Como não é, vou mandar passear mesmo!”


INCLINAÇÃO A CLICHÊS

Homem que se preza “usa e abusa” dos clichês. Os rapazes “têm sempre na manga” um lugarcomum “feito sob medida” para a ocasião. A assessora de imprensa Suzana Campos “sentiu na pele” o drama: “Vivi um relacionamento lotado de clichês. A cada discussão, ouvia os indefectíveis ‘estou 100% focado no trabalho’ e ‘se eu me casasse, seria com você’. Era irritante”, conta. Seria preguiça de pensar? Descaso? Ou simples pobreza de repertório lingüístico?

AJUSTE “Atire a primeira pedra” quem nunca usou um clichezinho. Ou vai dizer que nunca proferiu máximas como “você nunca me ouve”? É inevitável: “Casal é chavão na essência”, diz o jornalista Patrick Cruz, co-autor do livro Homem Chavão – Uma Coletânea Definitiva de Obviedades para Todas as Ocasiões. “Mesmo que a mulher se envolva com um literato, o sujeito acaba soltando um ‘você jura que não fica chateada se eu sair com os meus amigos?’ uma hora ou outra”. Sendo assim, conforme-se: “O que não tem remédio remediado está.”

CHAME O PROCON Lugar-comum a gente tolera, mas maltratar a língua pátria é demais. Se ele cometer deslizes como “isso é perca de tempo” ou “seje razoável”, não seja: só volte a falar com o terrorista gramatical depois que ele fizer uma revisão completa de seu português.


DESENCANAÇÃO DECORATIVA AGUDA

Não que a gente procure um companheiro com os dotes estéticos do João Armentano ou do Marcelo Rosenbaum (o que não seria mal), mas os homens, principalmente os solteiros, abusam do direito à desencanação decorativa. A gente explica: tirando os leitores da Wallpaper, que moram num loft ou num estiloso predinho antigo, os que sobram são um desastre no quesito decoração. “A maioria usa copos de requeijão e talheres que parecem ter sido usados pelo Uri Geller, o paranormal perito em entortar garfos”, define o jornalista e escritor Xico Sá. “Na casa do solteiro típico, a utilidade triunfa sobre a estética”, explica ele.

AJUSTE Está no DNA feminino querer dar um jeitinho na situação. “Mas a mulher não pode chegar mudando tudo. Isso assusta o macho jurubeba, que é o avesso do metrossexual”, avisa Xico. “A mudança deve ser lenta e gradual.” Um bom começo é dar de presente ao rapaz algumas taças apropriadas para você não ter mais que beber Veuve Clicquot em copo de geléia de mocotó.

CHAME O PROCON Qualquer grau de desencanação decorativa se torna irrelevante quando o namorado mostra todo o seu talento ao consertar o chuveiro queimado. O quê? Ele não tem essas prendas domésticas? Então, já de volta para a linha de montagem!

Uma reportagem de Mônica Salgado da revista ELLE

Um comentário:

Emanuel disse...

Embora eu discorde de algumas coisas (ou muitas? hahahaha), o texto é bem engraçado. :P

Te amo!!!

Beijos